domingo, 23 de setembro de 2012
Ser pedra ou ser vidraça
Meu espelho do banheiro quebrou, tenho que providenciar a troca mas acabo adiando, vou invadindo outros espaços na minha casa e utilizando os espelhos que encontro. Faço isso de forma mais rápida do que a habitual, tento não atrapalhar a rotina de ninguém. Acho que é uma boa desculpa para não me fixar nas marcas que estão sobressaltando no meu rosto. O tempo está passando e elas lá, gritando que não adianta ter cabeça de 30 porque a "carinha" não mente. Não me preocupo tanto assim com essas coisas de idade, nem sei porque inicio esse texto com essa referência. Entretanto, quando paro para pensar no tempo que já utilizei da minha história, que eu nem sei o tempo que terá, fico imaginando o quanto ainda quero realizar. Filhos e netas trazem novos olhares para nossa vida, perpetuam nossa história e nos dão gostinho de quero mais. Quero mais tempo para realizar as coisas que estão por vir. Quero mais tempo para olhar o rostinho da minha garotinha que está se formando no ventre de minha filha e de outros que, com certeza, também chegarão através dos outros filhos. Tempo que não é decidido por nós mas, podemos contribuir para esticar nossa estadia. Menos estresse, aborrecimentos, pedras. Isso mesmo, as pedras que interferem no nosso caminhar. Machucam e ferem nosso coração. Outro dia ouvi a expressão: "podemos ser vidraça ou pedra" - depende da situação. Muito boa a comparação! Fiquei fazendo uma avaliação das vezes que fui pedra e do quanto feri pessoas, quebrei suas vidraças e as deixei-as vulneráveis à chuva e ao vento, ou mesmo ao sol forte. Ser pedra é ser causador de danos, quebrando as vidraças expomos as pessoas e às fragilizamos, de forma covarde, agressiva e desumana. Quando quebramos vidraças não só atingimos nosso alvo como as pessoas que estão à sua volta. Todos sofrem as consequências dos cacos estilhaçados pelo chão, correm o risco de cortar os pés tentando limpar os estragos. Recolocar os vidros demanda tempo e trabalho, orçamentos e disponibilidade para fazer o concerto. Tacar pedra é fácil, rápido e muitas vezes não temos nem a noção do tanto que impomos na força do braça arremessador. O ato é instintivo, pode até ser impensado e digno de arrependimentos futuros. Irreversível! a vidraça já está estilhaçada e mesmo depois de recomposta, a nitidez da janela pode não ser a mesma, fica a insegurança, o medo de uma nova pedrada. Por tudo isso, posso dizer que as marcas no rosto, tem me ajudado a evitar ser pedra. São muitos os prejuízos consequentes desse ato insano. O tempo não é cruel como muitos dizem e querem nos fazer crer, o tempo é o promotor de sabedoria, quando olhamos e refletimos nas lições que ele nos apresenta. Precisamos saborear e internalizar cada uma delas. Quero ser vidraça, mesmo correndo todos os riscos das pedradas. Não quero ser detentora do julgamento do certo e do errado, quero viver o que acho certo e não dar pedradas naqueles que não concordam comigo. Quero ser vidraça e receber o sol, a chuva, o vento de forma a proteger os que amo e me fazem sentir a mulher mais feliz do mundo. Quero ser vidraça limpa e transparente, mesmo que as pessoas me vejam embaçada. Pode ser que com um paninho e um pouco de boa vontade elas possam enxergar melhor as minhas idéias. Tenho que aceitar que o olhar sempre será do outro, diferente do espelho do meu banheiro onde o olhar é só meu. Eu comigo mesma, eu com minhas marcas, eu com minha história, eu com meus ideais. Eu com minhas janelas, eu com minhas vidraças. Eu com meu espelho, que preciso comprar para o meu banheiro.
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