sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sua bênção pai...

Toda vez que telefono para o meu pai inicio nossa conversa com uma solicitação: "sua bênção pai"  e ele responde rapidamente "Deus te abençoe", é automático mas não é frio.  Como se fosse  um pedido de proteção que me permita seguir adiante na nossa conversa, seguir adiante na vida. Engraçado que, através de sua resposta, ele repassa essa responsabilidade para o Pai Maior,  intermediando de certa forma uma oração. De repente pensei nisso, na proteção que ainda solicito apesar das nossas idades e dos nossos dias meio distantes. Acho que foi porque eu participei essa semana,  de um encontro com o Ministério Público - lançamento do Projeto Em Nome do Pai. No evento,  as falas focaram a importância do nome do pai na certidão de nascimento. O pai no papel. Não é o meu caso, meu pai tem um lugar muito especial na minha história.
   Lembro, que quando era criança, numa noite em que faltou energia, estava sentada na varanda da minha casa, olhando o céu muito mais estrelado pela escuridão, foi aí que meu  pai ensinou-me uma canção que contava a tristeza de um pequenino grão de areia que se apaixonou por uma estrela no céu, amor impossível.   A minha imaginação de criança viajava na poesia da música, e quando papai cantou que anos depois apareceu a estrela do mar, senti que o impossível não devia existir e que a força do amor e o querer poderiam levar ao poder.
   Para mim estas lembranças que escreveram a minha história são muito importantes.  Eram lições de vida que recebia para refletir e a poesia era uma das melhores formas de aprender, papai trabalhava com uma coisa que é uma mola mestra para educação – sensibilidade. Aliás somos dois chorões! Cada encontro nosso é selado por um profundo abraço e pelos olhos marejados, é uma saudade do estar perto, nosso tempo não foi muito privilegiado. Situações que  a própria vida nos ensinou a  superar juntos e que nos fez crescer e valorizar ainda mais esse amor.  O  que mais me emociona nele é perceber o orgulho que tem de ser meu pai. Me faz sentir uma pessoa importante, grande, querida. Mal sabe ele que eu é que tenho muito, mas muito mesmo, orgulho de ser sua filha. Filha de um homem trabalhador, honesto, amoroso e que superou muitas dificuldades na sua vida. Me ensinou a lutar e não ter vergonha de vibrar com as minhas conquistas, que se tornam nossas através da sua bênção de pai...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Menos a Luiza que está no Canadá...

Fui praticamente intimada a escrever sobre a febre Luiza no Canadá. Minhas amigas sopraram pela rede: - olha que Luiza vai virar texto no blog dela... Como decepcioná-las?! Pois é,  a Luiza já voltou do Canadá, já fez propaganda, já tem música e já está faturando, tudo isso num espaço de mais ou menos uma semana. Isso é o que a Internet faz com a gente, a rede trabalha num determinado fato ou episódio que em algumas  horas já se tornam de "domínio público". Assusta e excita. Dependendo do direcionamento essa rede pode levantar ou implodir com uma pessoa. Por isso não podemos perder a noção das coisas, ter entendimento que a pulverização dos fatos acontece. Ficamos meio que instantâneos, tipo miojo sabe, prontos em 03 minutos para ser ingeridos. Nossos conceitos não podem ser construidos e destruidos em tão pouco espaço de tempo. Nossos valores precisam ser alicerçados em verdades ou mentiras, mas repensados e avaliados a todo momento.
Quando fiz a chamada para arrumarmos coisas maravilhosas para fazer na hora do BBB, estourou a situação de expulsão de um componente do jogo. Mesmo sem assistir ao programa, a rede mais uma vez me bombardeou de notícias e furos de reportagens sobre o episódio. Ouvi muito abobrinha tipo - ela gemeu, então estava gostando..., consentiu sim, não falou que não..., e outras coisas horrorosas no mesmo nível. Em dois dias tudo foi resolvido, o fato ocorreu, foi julgado e deletado nas páginas, independente do processo que possa estar rolando. Me dei conta que nós nem aproveitamos o boom para trazer a discussão da agressão a mulher, da situação de vulnerabilidade que ainda se vive, dos consentimentos que não são dados, das violentadas, mesmo que através de palavras. Quanto tempo se passou e me sinto como no tempo das cavernas, com os homens puxando suas mulheres pelos cabelos. Exagero! vocês podem dizer, mas muitas mulheres ainda vivem sem nem mesmo conhecer o que é  dignidade e respeito. Submissão, medo, culpa, desejo, sentimentos que se misturam e fragilizam muitas delas. Como fortalecê-las? Falando, discutindo, escrevendo, cutucando, mandando mensagens por essa rede que é maravilhosa e tem muito de positivo a oferecer. Não deixando que o momento seja o presente, sem futuro e só com passado. A forma de contar o tempo não foi alterada, o que fazemos com ele sim. Vamos então nos dar ao direito de pensar - afinal, a Luiza já voltou do Canadá. A piada não tem mais graça. A violência contra a mulher também não!!!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Raspa do Tacho

Em 2001 quis dar um presente de aniversário diferente para minha mãe,  publiquei um texto para ela. Hoje eu precisei "retocar", colocar alguns verbos no tempo passado. Ela não está mais aqui, já partiu e deixou muita saudade. Lá se foram cinco anos mas, nem parece, sua presença é forte. Acho que é isso que se chama viver de verdade, é morrer sem deixar de existir. Ela continua viva nos nossos corações, nas lições que deixou de vida e principalmente na nossa formação humana e espiritual, foi tanto amor  que conseguiu deixar uma boa  reserva para nos abastecer depois da partida. Divido com vocês a Raspa do Tacho:

Muitas vezes o prazer de assistir a mãe fazendo um doce se concretizava no final da tarefa  quando se pedia para raspar a vasilha. O tacho do doce onde fica aquele resíduo da guloseima, que parecia ser o mais saboroso pois estava ali, pronto para ser saboreado, quente e disforme mas ali, sem ter de esperar a hora da sobremesa ou do lanche marcado para o consumo da iguaria.  Quando se é criança, tem dessas coisas.  A alegria existe em pequenas ações.  Lembro-me quando mamãe contava suas artes infantis, a bacia que se transformava em barco e navegava num grande rio que, de grande não tinha nada, as articulações feitas com seu primo para implicar com a sua sobrinha da mesma idade.   Isso porque mamãe foi a última filha, a “temporão”, vovó ficou grávida junto com minha tia mais velha, então chegou aquela menina pequenina, mas muito esperta - era a “raspa do tacho” como vovó costumava chamar. 

   A alegria e bom humor permaneceram, aquela menina transformou-se em uma mulher, constitui sua própria família e logo na sua primeira experiência maternal teve de segurar a barra de um casal de gêmeos, tirou de letra, desesperava-se às vezes com a fome cronológica e resolvia amamentar como a natureza mandava – eu tenho dois seios e dois filhos, cada um mama em um ! – dizia ela com seu hábito de resolver as coisas de modo pitoresco e prático.

   Crescemos esbarrando em dificuldades e preconceitos que ela enquanto mulher sofreu, mas nada que o tempo não deixasse para trás.

   De vez em quando nossa relação de mãe e filha criava umas turbulências.  A figura feminina materna é um grande desafio para a  menina, por vezes ela dizia que nossos papéis estavam invertidos pois parecia ser eu a mãe e ela a filha, mas essa observação vinha com muito respeito e carinho.  Mal sabe ela em quantas ocasiões as suas palavras me socorreram e me tiraram de angústias, um apoio diferente.  Trazendo o lado leve da vida, a parte que ninguém liga, presta atenção, a piada contada de maneira dedicada, a graça e ironia tirada de uma situação complicada, o transparecer fraqueza quando no fundo se é  forte e vencedora.  Abrir mão sem ter que se arrepender, fazer e conservar amigos, transformar as “bobagens” em lições de sobrevivência.  Assim foi e, ainda estou crescendo, tentando trazer para a minha vida estas lições e repassa-las em busca das transformações tão idealizadas em nossos sonhos de criança, tive  a sorte e  o privilégio de saborear a “raspa do tacho”.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ai se eu te pego!!!

Assisti ontem uma matéria, num programa jornalístico da TV, sobre o fenômeno  "Ai se eu te pego" do Michel Teló, na Europa. Espero que minhas palavras não espalhem uma conotação preconceituosa, pois a música é alegre e daquelas que ficam rodeando nosso cérebro e saindo dos nossos lábios de forma automática. O que me incomoda e impressiona é a constatação da força de uma mensagem brasileira tão vazia. Possuimos uma cultura maravilhosa, nossa MPB é rica e mesmo sendo eclética não é comum uma super valorização como a apresentada pela matéria jornalística. Fiquei com vergonha,  não do cantor, ele está correndo atrás daquilo que acredita. Apostou numa linha e segue defendendo sua musicalidade, aliás eu não sou uma crítica musical. No momento meu foco está direcionado para a falta de foco. Falta de mensagens, se não for exigir muito, quem  sabe até poesias. Cazuza com toda a sua doideira e irreverência gritava que os heróis morreram de overdose. Gonzaguinha criou uma oração quando colocou o dedo na ferida e afirmou que um homem sem trabalho não tem honra, morre e mata. Zé Geraldo apresentou o rosto maltratado do peão de obra, quando escreveu Cidadão...tá vendo aquela escola moço? Então o mundo globalizado  canta e faz toda a coreografia do Michel. Bom pra ele, claro. Triste pra nós, educadores que vamos ter que provar para nossos alunos que sucesso na vida é muito mais do que delícia...assim vocês me matam!!!