domingo, 20 de agosto de 2017

O Laço


Levei um susto quando abri o blog e deparei com a data de minha última postagem! O tempo passou por aqui tão rápido, como as nuvens que assustadoramente são levadas sem destino pelo vento intenso que toma conta da noite. Sem destino ou direção, assim como me senti quando perdi meu irmão gêmeo, no dia do nosso aniversário, há pouco mais de um mês. Não preciso dizer que ele era uma pessoa mais que especial na minha vida. Porém, prometo não ser melancólica, nem conseguiria ser, porque não vou falar de perda mas, do que ganhei durante todos esses anos durante a sua existência. Há algum tempo atrás escrevi sobre a sensação de ter um irmão gêmeo e o quanto isso tem um sabor especial na minha trajetória, até porque ele sempre desempenhou com excelência esse papel. Nossa existência foi uma surpresa para nossos pais até a hora do parto. Eles não sabiam que o primeiro filho tão esperado, era na verdade, um casal de bebês. Penso que quando nascemos, as pessoas nos viram como dois bonecos amarrados pelo mesmo laço, um único laço. Como se tivéssemos selado um pacto nas entranhas de nossa mãe. Enquanto buscávamos nosso escasso espaço no ventre, cedendo um pouco dali ou daqui. Fizemos isso a nossa vida toda. Sentíamos as aflições e angústias do outro, nesses momentos um buscava o outro pelo celular ou mandava uma mensagem que era entendida imediatamente como o conforto para o coração. Numa conivência velada onde o mais importante era   trazer paz, revigorando o coração apertado. Torcendo pelas conquistas e incentivando a enfrentar os medos e incertezas para as novas lutas. Essa foi nossa relação. Organizou sua família com muita luta, tinha orgulho dos filhos que educou. Não chegou a ser avô através dos seus filhos mas, foi avô de minhas netas nas visitas em que se acabava de brincar com elas, deixando a lembrança marcante de sua alegria. Na participação intensa em todas as comemorações de aniversários das meninas.
Foi um filho espetacular, acompanhando de perto as necessidades de nossa mãe e nosso pai, me tranquilizando mesmo à distância.  Construiu uma infinidade de amizades, pessoas que experimentaram o prazer de sua parceria. Como posso deixar isso de lado?  Pensar que por mais inacreditável ou impossível que possa parecer essa realidade da sua partida, até agora nós construímos uma história tão bonita e forte que mesmo com a dor, que impressionantemente é física, real, dilacera o peito, você ainda se tornou mais forte e presente através da sua ausência. Confuso ou louco isso, pode até parecer mas, é exatamente isso que sinto hoje. Amanhã eu ainda não sei como será. Só sei que apesar de ainda chorar escondida, tenho tanto orgulho de ter tido você como meu irmão!  Nessas horas que a tristeza bate, acho que você continua a me mandar um zap, me lembrando do quanto preciso me alimentar desse amor que você deixou de sobra, aqui nesse lugar. E é isso que eu vou fazer meu irmão. Vou seguir o caminho que iniciamos juntos, célula a célula, órgão a órgão, corpo, mente, corações e emoções. Descobertas que fizemos juntos na infância, brigas da adolescência, confrontos de ideias e opiniões, consolo das perdas na vida e aplausos às conquistas. Vou prosseguir, continuar de acordo com o que está programado, alimentada pela sua alegria e vontade de fazer a diferença na vida das pessoas. E nessa tarefa você foi mestre. Principalmente na minha por isso, agradeço cada momento, cada aprendizagem, cada sorriso ou gargalhada, mensagem de amor e de alegria, calor no ventre de nossa mãe e no meu coração. Sei que um dia a gente se reencontra e deixa essa saudade de lado. Mas, por enquanto vou vivendo por aqui, segurando a fita do nosso laço.