Tudo bem que todos
os dias deveriam ser considerados especiais para nós, mas entro no bloco e
aceito todas as homenagens recebidas, sem deixar de parabenizar as mulheres que
fazem parte da minha história. O dia já está acabando, quase não consegui tempo
para sentar em frente à tela e escrever para nós Mulheres. Tempo?! Lembro da
música "és um senhor tão bonito...tempo, tempo, tempo, vou te fazer um
pedido"...esse Senhor que comanda nossas vidas, como um domínio do gênero
masculino que já começa a incomodar. Penso que hoje alcançamos muitas
conquistas contabilizadas como lucros e que às vezes se revertem em perdas para
nós mesmas, a dupla jornada é um exemplo disso. Discutimos durante anos a
evolução social e política das mulheres, a questão dos papéis, a violência
doméstica, a desigualdade, com um trabalho na mídia, na escola e na sociedade
em geral. Porém, ainda precisamos repensar muitas questões femininas promovendo
uma desconstrução e um empoderamento de mulheres reféns da sua própria vida.
Ele chega e incomoda novamente, o "tempo" de fechar meu texto. Lembro-me
das mamadas de três em três horas, nós mães olhando para o relógio com a
angústia de terminar as compras do mercado, antes do horário da próxima mamada.
A hora do banho e do almoço para chegar com o filho na escola, não dá pra ter
nem uma dor de barriga fora de hora, atrasa tudo. Filhos crescem, olhamos para
o relógio durante a madrugada à espera do abrir porta, finalmente ele ou ela
chega da balada. Mas não é só no papel materno que esse relógio cisma em andar
independente do que eu tenho para fazer. Já marcou manicure na hora do almoço
do trabalho? A profissional tem de ser boa para dar tempo. Horário da
faculdade, entrar atrasada na sala é horrível, a gente se perde toda. Encontrar
com namorado, marido, namorido, não importa quem, importante é chegar na hora e
ter tempo disponível para estar com ele, senão a relação começa a balançar.
Vivemos em constante cobrança a nós mesmas. Acabamos forçando a ação de uma
Mulher Maravilha que na verdade não possui nenhum poder extra. Então se machuca
tentando se desdobrar em mil, se quebra, se rompe e corrompe nos seus ideais.
Abandona sonhos, lutas, desejos, abre mão porque acredita que seu tempo não é
seu, é do outro. Quando de repente, temos a chance de pegar um livro e na nossa
varanda, a qualquer hora da noite, ler sob os cuidados das estrelas, nos
assustamos, temos esse direito? Posso realmente usufruir desse tempo só para
mim, ele é meu? Claro que podemos, mais que isso, devemos! Somos seres cheias
de liberdade, do livre arbítrio para fazer aquilo que nos faz bem. Tenho
direito de decidir como usar o meu tempo e se ele vai ser direcionado para
minhas necessidades de qualidade de vida. Compromissos, agendas, sempre irão
existir, mas não podem comandar a nossa vida, só devem organiza-la. Nós,
mulheres, geralmente estamos a serviço. Precisamos romper com isso, sem culpa,
sem cobranças. A nossa consciência estará sempre tranquila, se a qualidade do
nosso tempo estiver atendendo às nossas necessidades humanas, com certeza todos
que estão à nossa volta também se sentirão melhor, o reflexo é imediato e o
ciclo se fecha, tudo no seu tempo...