As crianças quando nascem recebem imediatamente um choque de ordem, sua nudez é banhada e adornada com as roupinhas escolhidas para serem as primeiras a transformar o pequeno ser, em alguém "apresentável" à vida. No fim da estrada não deixamos esse mundo da mesma forma, a preocupação com o adorno continua, o corpo que já não grita, nem chora com o desconforto do asseio é preparado.para uma entrega apresentável à morte. Princípio e fim se confundem nas ações e nos sentimentos.
Revivendo essa fase de recém nascidas à minha volta, com as netas que chegaram num grande pacotão de Deus, começo a pensar: nascemos nus???
Os sentimentos negativos de um bebê, que acaba de chegar ao mundo, geralmente se apresentam em forma de choro e estão ligados à sensação de fome, ao incomodo da fralda suja ou à grande dor da cólica que maltrata e desgasta os filhos e os pais. A cólica parece ser a primeira prova incontestável da nossa incompetência em poder fazer tudo para não deixar nossos pequenos sofrerem, engano nosso, mesmo com medicação, colo e alimentação adequada, a destruidora de noites de sono ainda pode vencer e acabar com nosso poderio paterno.
Tais sentimentos negativos alimentam nosso dia a dia aos poucos e chegam com a convivência na vida aqui, fora do ventre.
Entretanto algumas atitudes chamam atenção, pode ser o sorriso que surge de forma natural quando a criança olha para alguém e sente que está recebendo um olhar de amor. Ou mesmo, o sorriso que pode ser expresso quando adormece e nos deixa atordoados imaginando o sonho que possa estar motivando essa alegria. As deliciosas gargalhadas que são espontâneas acompanhadas pelo brilho nos olhos que insistem em dizer - me faz rir de novo, é bom, é gostoso. Além daquele jeito charmoso de chamar a atenção para si, acariciando nosso rosto com pequenas mãos, ainda sem direção pela ausência da coordenação. Tudo novo mas, impulsionado por um sentimento positivo, bom e leve, desprovido de censuras e disponível para todos que estão à sua volta. Basta sentir no outro a mesma energia. Penso que isso se chama AMOR. Nascemos encharcados de amor, tal qual uma esponja imersa numa bacia de água, chegamos com um estoque abundante daquilo que deveria girar a grande roda da vida.
No entanto, vamos aprendendo, principalmente com nossos pais, que o lado mal também existe e que precisamos saber nos defender. Volto a pensar e trocar ideias com pessoas que me alimentam de novos olhares, uma delas lembrou bem (grande amiga Edna) - os animais nascem e imediatamente vão ganhando independência e destreza para lidar com a vida e nós, pobres seres humanos, "nos achamos" mas começamos e muitas vezes terminamos nossas histórias na dependência total do outro. Nessa hora tenho a certeza: o que vai garantir que essa troca de energia aconteça é aquilo de que fomos providos ao nascer, aquela mola propulsora de nosso viver - amor. Posso estar sendo chata por fazer rodeios com as palavras mas, acho que me fiz entender (ou não).
Não nascemos nus! Nascemos prontos para seguir nossa caminhada recebendo e ofertando aquilo que temos de melhor, a escolha das ofertas é nossa, o alimento de nossas ofertas é do outro. Uma troca que começa no primeiro banho, uma troca que termina quando somos arrumados para nossa despedida. Não nascemos nus! Podemos passar por essa vida nos vestindo a cada dia de cores com energias iluminadas e revigorantes ou usar a mesma roupa surrada e desbotada com tons escuros, sem cor.
Ainda bem que temos sempre a chance de repensar nosso armário. Repensar nosso fazer, nosso agir, nosso caminhar, para que possamos sempre sorrir ou mesmo gargalhar com as alegrias da nossa vida. Acariciar faces que nos fazem ser feliz, mesmo com palavras. Temos a chance e precisamos enxergá-la, sentir o momento e a oportunidade, sem desperdiçar o que nos é oferecido. Vestindo e colorindo nossa alma, iluminando não só a nossa mas também as outras vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário